20 de novembro de 2007

Sergio Fingermann


Pintura e escrita para aprender a ver o mundo
Em mostra na Pinacoteca e em livro, Sergio Fingermann faz apelo para a experiência da contemplação em mundo veloz
Camila Molina

Em versos, o artista Sergio Fingermann define o Ofício de Pintor: nele é necessário ''''educar mãos e olhos/não ter pressa/fazer a mão obedecer/fazer os olhos verem diferente do que se vê/fazer da mão o instrumento de descobertas/alimentar os olhos com imagens/alimentar os olhos com palavras/ouvir música/ouvir silêncios/aprender a ver a realização diferentemente do desejo/insistir/descobrir que o visível está povoado de invisíveis/fazer o igual até descobrir o diferente''''.
O texto está presente no livro Elogio ao Silêncio e Alguns Escritos sobre Pintura (Bei Editora, 64 págs., R$ 40), que o artista acaba de lançar com a exposição de pinturas e gravuras inaugurada na Pinacoteca do Estado. Escrita (''''anotações'''' do artista) e pintura se entrelaçam para que se faça um apelo, uma reivindicação: é preciso ''''colocar o pé no freio'''', como diz Fingermann, é preciso aprender a ver o mundo, como diz a fenomenologia de Merleau-Ponty. Sergio Fingermann usa uma analogia simples para falar sobre esse processo. Diz que no percurso dessa vida tão veloz do hoje em dia, ''''a pintura tem de fazer um acostamento na estrada'''' - porque, senão, a paisagem não seria contemplada, apenas passaria rapidamente pelo vidro do carro sem podermos nada dela apreender.
A pintura promove, então, ''''a experiência na contemplação''''; aí reside a grande responsabilidade do artista - e sua ''''ética que nasce do ofício'''', segundo Fingermann. ''''O artista não produz, ele trabalha'''', completa, e coloca no mundo alguma representação que promova a reflexão, faça sonhar. Porque, afinal, ''''o mundo não precisa de uma imagem a mais, ele já está saturado.'''' Mas quais seriam, portanto, as imagens que o artista criou em sua série Elogio ao Silêncio? São metáforas, tiradas de um mundo de fábulas (''''uma temática mais clássica da interlocução da literatura na pintura''''), um mundo onírico ''''para produzir o sonhar e não o sonho'''': pequenos personagens em roda - em algumas telas, sobre um fundo quadriculado que remete a azulejos, em outras, imersos em um campo circular; resquícios de paisagens; portões feitos de uma geometria leve. Dois quadros, também, representam um pintor e seu cavalete numa atmosfera onírica. As telas, em grande formato, trazem agora a figuração (que já estava presente em suas gravuras) porque em seu trabalho pictórico anterior, Fingermann estava operando no campo da abstração ''''guarnecida por sensações''''. Esse campo se esgotou, como diz o pintor, ''''pelo menos agora'''', mas ele frisa que ''''o tema é só artifício, o conteúdo está entre o antes e a emergência da imagem''''. É preciso fazer pensar sobre esse momento de crise das artes plásticas, elas estão ''''sofrendo de um autismo'''', afirma o pintor. Por isso ele diz ter achado pertinente o projeto do curador Ivo Mesquita para a 28ª Bienal de São Paulo, marcada para 2008: o pavilhão no Parque do Ibirapuera terá seu segundo pavimento vazio e os outros pisos serão dedicados a uma biblioteca, conferências e eventos. ''''Não é à toa que o curador quer criar um parênteses para a reflexão. Estamos no fundo do poço'''', completa Fingermann, que acredita que o certo autismo não se vê presente em outros campos como a literatura e nem a música. Aliás, foi da música que nasceu a série Elogio ao Silêncio, realizada entre 2005 e 2007: partiu de um convite da Osesp para que ele criasse capas para os CDs das gravações das nove sinfonias de Beethoven. Enfim, pintura e escrita - para quem não tem o livro do artista, que inclui também textos de Manuel da Costa Pinto e Fernando Paixão, há um vídeo numa das salas expositivas em que Fingermann cita seus poemas despretensiosos - estão refletidas nessa vontade de falar de todas essas questões.
Ao mesmo tempo, a Pinacoteca inaugura hoje para o público mostra com 12 pinturas em grandes dimensões e 13 esculturas em metal feitas pelo artista Tal R, nascido em Tel-Aviv, Israel, mas que vive na Dinamarca.Serviço Sergio Fingermann. Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, 3324-1000. 3.ª a dom., 10 h às18 h. R$ 4(sáb. grátis). Até 30/12
e-mail enviado por Paulo Mandarino

2 comentários:

david santos disse...

Por favor!
Ajuda a que se faça Justiça a Flávia. Se és um ser com sentimentos, ajuda!
Eu jamais invadirei teu blogue, garanto! Mas ajuda.
Repara bem: eu, tu, seja quem for, tem nosso pai, nossa mãe, nosso irmão ou irmã, ao longo de 10 anos em coma, que vida será a nossa?
Se não tivermos a solidariedade de alguém com sentimentos, que será de nós?

TEMPO SEM VENTO

Ah, maldito! Tempo,
Que me vais matando,
Com o tempo.
A mim, que não me vendi.
Se fosses como o vento,
Que vai passando,
Mas vendo,
Mostrava-te o que já vi.

Mas tu não queres ver,
Eu sei!
Contudo, vais ferindo
E remoendo,
Como quem sabe morder,
Mas ainda não acabei
Nem de ti estou fugindo,
Atrás dos que vão correndo.

Se é isso que tu queres,
Ir matando,
Escondendo e abafando,
Não fazendo como o vento:
Poder fazer e não veres
Aqueles que vais levando,
Mas a mim? Nem com o tempo!

David Santos

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado