10 de dezembro de 2006

POEMA















Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras

Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria

não dum e doudro lado da luz
mas no próprio seio dela

Intensamente amantes
loucamente amadas

E espalham pelo chão braços de luz
cinzenta
que se introduzem pelo bico nos
olhos do homem

Por outro lado
a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca.

Mario Cesariny (1923-2006)

[in Pena Capital, Assírio & Alvim, 3ª edição,2004]

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